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Sempre acreditamos que entendemos o que um colega diz em um congresso de psicanálise quando escreve ou diz palavras como “inconsciente”, “psicanálise”, “tratamento”, como se fossem palavras que não demandassem um esclarecimento tanto para quem as emite quando para quem as recebem. Em termos conceituais, o “inconsciente freudiano”, é o mesmo trabalhado por M. Klein e Bion? E o que dizer da apreensão entre nós analistas de hoje, desses conceitos? O que queremos dizer quando dizemos “inconsciente”?
Como notamos e comunicamos para nós mesmos e aos nossos pares nossa experiência como psicanalista? Na esteira das descrições de casos clínicos do século XIX, Freud criou uma forma única de publicação até então: o caso clínico em psicanálise, acusado por alguns de se situar entre a descrição de um caso e o exercício da literatura. Melanie Klein seguiu essa forma de publicação, de uma forma a transformar o caso clínico em um modelo psicanalítico.
Literatura fantástica, literatura infantil, literatura. Alices e Clarices, Chapeleiros e Rainhas, Gato e Lagartas ... todos nos fornecem modelos para o exercício do nosso ofício diário que é a psicanálise. Estão por aí, dando voltas a nossa disposição. Sabemos como encontrar seus tons e tocá-los? Sabemos como nos apropriamos e improvisamos?
O que da teoria dos grandes autores da psicanálise vive em nós hoje? Qual é o lugar do analista praticante nessa relação com o legado que esses grandes autores nos deixaram? Como usamos esse legado? Deixamos espaço para o inédito? O inaudível? O incrível? O impensado? O impensável? Nós mesmos? O que virá depois?
Qual é a relevância da necessidade humana de estar no controle para uma discussão sobre padrões aleatórios? A questão é que se os eventos são aleatórios, nós não estamos no controle, e se estamos no controle dos eventos, eles não são aleatórios. Portanto, há um confronto fundamental entre nossa necessidade de sentir que estamos no controle e nossa capacidade de reconhecer a aleatoriedade. Leonard Mlodinow - Livro – O andar do bêbado
“Olho o ovo na cozinha com atenção superficial para não quebrá-lo. Tomo o maior cuidado de não entendê-lo. Sendo impossível entendê-lo, sei que se eu o entender é porque estou errando. Entender é a prova do erro. Entender o ovo não é um modo de vê-lo.” (o ovo e a galinha – in Felicidade Clandestina, ed. Rocco, pág 46)
Imaginem se Freud frequentasse uma supervisão... e se fosse com Bion? Imagine esse encontro de “Titãs”. Freud traz um sonho, um relato de uma fantasia da vida de um suposto paciente. “Lá está o segredo”, pensa. Bion ouve, atento à turbulência emocional que toma conta do setting. “Qual seu cheiro, qual sua cor, qual sua textura?”
Neste encontro trouxemos dois convidados: Ale Esclapes, psicanalista e diretor da EPP-Escola Paulista de Psicanálise e Fabíola Rodrigues, psicanalista e escritora. A dupla apresentou e discutiu uma visão pessoal e o ponto de vista de intersecção entre os dois na discussão do filme “A filha perdida”, que é uma adaptação do livro homônimo de Elena Ferrante e indicado ao Oscar em 2022.