Por Ale Esclapes
Algumas pessoas me perguntam o que a psicanálise tem a dizer sobre James Holmes, o atirador que matou 12 pessoas em Denver, nos EUA. Frustrando um pouco os interlocutores, que gostariam de ouvir algo como “provavelmente algo aconteceu na relação entre ele e seus pais”, etc ... eu simplesmente digo – creio que precisamos de algo, alguma teoria que devolva ordem ao caos que esse tipo de evento cria em nós.
Sem explicação, uma simples ida ao supermercado pode virar um tormento ou uma crise de pânico.
E nessa hora, corremos o risco de trocar um simples “não sei / não sabemos” por alguma teoria que faça o efeito de um ansiolítico. Analistas às vezes tem esse tipo de comportamento, humano demasiado humano, de andar com uma teoria embaixo do braço para fugir daquele lugar no real que simplesmente pode não ter sentido. Bion chamou esse sentimento de “arrogância”.
Tudo que não podemos fazer por nós é sacar algum tipo de explicação que não explica nada, pois até agora nada foi explicado em relação a esses casos. Temos simplesmente “teorias”, em alguns casos alguns padrões. Não faltarão aqueles que vão apresentar a “morte da família”, ou a “sociedade em desordem”, ou um efeito colateral da “nova ordem simbólica” para explicar tais fatos. São os mesmos que desconhecem o holocausto dos armênios (só para citar um evento antecessor, mas longe de ser o único), e juram de pé junto que o holocausto começou com o povo judeu – ou fazem questão de não saber. Esse tipo de horror assola o humano desde que somos humanos.
Tudo isso é humano, e tudo isso nos pertence. Talvez nos reste ver onde se encontra o “James Holmes” em nós mesmos, antes de sair procurando na parta ao lado. Se ele pode fazer isso, nós também podemos. E inevitavelmente pode-se perguntar – qual foi a última vez que você disse a quem ama – “eu te amo”?