Por Marcelo Moya
Dia 15 de Outubro comemora-se o Dia do Professor. A data nos remete aos tempos do Império quando D. Pedro I, em homenagem à professora Santa Tereza de Ávila, decretou o ensino fundamental no Brasil (na época as Escolas das Primeiras Letras), estimulando o surgimento de escolas nas províncias mais distantes, acompanhado de uma série de normativas e currículos.
Aos meninos, a leitura, escrita, cálculos e álgebra. Às meninas, restou-lhes o ensino da economia e das prendas domésticas.
Esta data se tornou feriado ainda na década de 40, mas foi apenas no ano de 1963 que um Decreto o regulamentou: “ - “Para comemorar condignamente o Dia do Professor, os estabelecimentos de ensino farão promover solenidades, em que se enalteça a função do mestre na sociedade moderna, fazendo participar os alunos e as famílias”, enaltece o Ato Federal.
Da Grécia Antiga com a pedagogia Aristotélica até as Escolas Novas dos século XX, a educação foi assumindo histórica e gradativamente seu protagonismo no centro das discussões políticas e sociais no mundo, e hoje em tempos de neomodernidade, segue rompendo paradigmas, vencendo barreiras e passando por significativas transformações.
Mas uma figura essencial não deve jamais ser preterida no âmbito destas discussões: o professor. O ‘pedagogo’ numa tradução literal que significa ‘aquele que guia’, surgiu há mais de três milênios antes de Cristo, e era um escravo de famílias ricas designado para acompanhar as crianças até o mestre, embora era com o escravo que elas mais interagiam, conviviam e se preparavam. Há indícios de que pessoas específicas seriam selecionadas para ensinar certas habilidades desde os tempos do Antigo Egito, tradição que depois também se firma nas tradições religiosas do judaísmo.
A psicanalista britânica Melanie Klein (1882-1960), em seu artigo “O papel da escola no desenvolvimento libidinal da criança”, publicado na coletânea Amor, Culpa e Reparação e Outros Trabalhos, considera que “ ... na vida da criança, a escola significa o encontro com uma nova realidade, que muitas vezes parece muito dura...”, ressalta, mas aponta para a figura do professor como substituição da figura maternal que contribui positivamente durante este processo. E quem não se lembra da primeira professora no início de nossa vida escolar e o quanto ela foi importante em nossos primeiros passos do aprender?
"É quase como se o analisar fosse aquela terceira das profissões “impossíveis” ... as outras duas, conhecidas há muito mais tempo, são o educar e o governar. ” (Sigmund Freud)
O pai da psicanálise Sigmund Freud (1856-1939), em seu artigo “Análise Finita e Infinita" (1937), faz a seguinte consideração: “ - É quase como se o analisar fosse aquela terceira das profissões “impossíveis” ... as outras duas, conhecidas há muito mais tempo, são o educar e o governar. ” De fato, os mestres estão cada vez mais cientes desta difícil realidade, e embora muitas vezes desmotivados e desvalorizados, vem se tornando exímios mestres do impossível, realizando seus milagres.
Mas quero chamar a atenção em especial para um tema que já há alguns anos exponho em uma de minhas palestras ministradas nas escolas, “Professores à beira de um estado dos nervos” que chama a atenção sobre a importância do cuidado emocional por parte destes que se dedicam por vocação à arte o ofício do ensino. Os números indicam que mais de 70% (setenta por cento) dos profissionais de educação que deixam de trabalhar temporariamente ou em caráter definitivo em sala de aula se deram por condições psicológicas ou psiquiátricas, principalmente pela depressão e transtornos de ansiedade, seguidos do estresse, insegurança, violência e outras alterações em níveis mais severos de saúde. Como afirma Mário Cortella “ ...quando o modelo de vida que vivemos nos leva a um esgotamento, é fundamental questionar se vale a pena continuar insistindo no mesmo caminho... “, reitera o filósofo.
Em meio a tantos desafios, o professor embora movido pela abnegada entrega à profissão, deve sempre se lembrar de que são as emoções que movem a sua vida acima de tudo, emoção que vem do latim movere ou movimento. O pintor holandês Vincent van Gogh (1853-1890) afirmara certa vez que “... as emoções são os grandes capitães da nossa vida, obedecemos-lhes sem nos apercebermos. ”, enfatiza. Como um jogador de futebol que coloca sua emoção no 'bico de sua chuteira', assim o professor, que deposita sua emoção diariamente diante de uma lousa no ambiente escolar ou acadêmico.
Todavia, os desgastes são inevitáveis neste sentido, e mesmo corajosos, bravos e persistentes, nossos mestres também podem sucumbir ao sofrimento de suas emoções e sentimentos. A psicanalista portuguesa Emanuela Fleming em seu livro Dor Sem Nome considera que “ ...a dor mental apresenta-se por vezes como uma potência sem nome, dominadora e cruel, impondo uma lógica tirânica...” Como escreve São Paulo Apóstolo em sua epístola aos romanos, “o que ensina, esmere-se no fazê-lo” e completa em outra epístola bíblica, “cuide de ti mesmo, e do teu ensino; persevera nisso".
Aos mestres, o desafio de seguirem perseverando na arte do impossível, não se esquecendo do cuidado de si, da autoestima, da valorização da classe, e claro, exercendo sempre o pleno direito de reivindicar e exigir o devido respeito que merecem de toda a sociedade. Como canta a sambista e política Leci Brandão: “Professores, protetores do meu país, eu queria, como eu gostaria, de um discurso bem mais feliz, porque tudo é educação, e matéria de todo o tempo, ensinem a quem pensa que sabe de tudo, a entregar o conhecimento, batam palmas para ele, batam palmas pra ele, que ele merece!”