Por Janete Vilella
A Psicanálise é um termo que serve para se referir a uma teoria, a um método de investigação e a uma prática profissional (clínica). No desenvolvimento da Psicanálise, Freud produziu tudo isso ao mesmo tempo. Porem, ela é, antes de tudo, um método, um instrumento de pesquisa, sendo que a obra mais importante e decisiva na sua historia, é a “Interpretação de Sonhos”, exatamente por estar voltada para o estudo de problemas clínicos.
A grande originalidade de Freud foi valorizar os sonhos como possibilidade de conhecimento do inconsciente. Freud tinha como objetivo demonstrar que os sonhos podiam ser interpretados ou seja, que os sonhos tinham um “sentido”. Para Freud, os sonhos, juntamente com os atos sintomáticos, os esquecimentos, os lapsos, os chistes, são fenômenos dotados de “sentido”; não ocorrem ao acaso e são ótimos meios de se chegar aos processos inconscientes. Sabia que estava contra a corrente da ciência do seu tempo, que acreditava que os sonhos não eram um ato mental e sim um processo somático, ou seja, o sonho acontecia motivado por indicações registradas no aparelho mental.
Freud sabia que fora da ciência acreditava-se que havia no sonho um sentido oculto e que esse interesse popular pelo sonho e por sua interpretação vinha desde o mais remoto tempo, sendo que para interpretá-los dois métodos eram usados:
1- Simbólico - em que o sonho é analisado em seu aspecto geral, sendo o conteúdo confesso mudado para um outro de igual teor, inteligível.
2- Decifração - em que o sonho é analisado, não em seu aspecto geral, mas em cada um de seus componentes, ou seja, cada parcela do conteúdo dos sonhos.
Quanto mais Freud se empenhava em estudar seus casos clínicos, mais profundamente observava a influencia que os processos inconscientes tinham na vida das pessoas. Percebeu que seus pacientes ao falar sobre seus problemas, contavam também os seus sonhos. Esses relatos lhe mostravam que, ao rastrear a trilha que levaria ao sintoma, podia-se seguir uma idéia patológica e o sonho fazia parte dessa cadeia psíquica. O sonho poderia ser tratado como um sintoma, portanto, poder-se-ia aplicar ao sonho o mesmo método de interpretação criado para os sintomas.
Ficou claro para Freud que os sonhos realmente tem um sentido e que é possível ter-se um método científico para interpreta-los. Acabara de encontrar a chave para chegar aos conteúdos mais reprimidos do indivíduo. Percebeu o mestre que, ao narrar seus sonhos o paciente deixava de ter uma atitude crítica sobre o que falava ou pensava. Assim, duas mudanças muito importantes aconteciam durante a narração do sonho: Havia um aumento da atenção que o paciente dispensava as suas próprias percepções psíquicas e, a eliminação da crítica pela qual ele filtrava os pensamentos que lhe ocorriam. Dessa atitude do paciente, percebeu Freud, dependeria o êxito do tratamento psicanalítico.
O método de interpretação de sonhos de Freud era diferente do método simbólico e, embora se aproximasse do método da decifração tem sobre ele diferenças profundas. Embora analise os sonhos em suas várias partes, como um conjunto de informações psíquicas, não tem, como na decifração , um código fixo para cada parte do sonho. Pelo contrário, Freud constatou que cada parcela de conteúdo variava para cada pessoa e cada contexto. Seu método, portanto, era interpretativo / associativo. Associativo por que se formava uma cadeia associando as representações verbais.
Mas, foi ao analisar seu próprio sonho, no qual aparecia Irma, sua paciente, que Freud percebeu que os sonhos são a realização de desejos e que todo desejo é representado por uma forma verbal. No sonho, os desejos não são descarregados na ação e sim satisfeitos de forma alucinatória. Freud chamou a esses sonhos sem conflitos, de sonhos infantis.
A partir dessa constatação, Freud começa a desenvolver a noção de censura, de repressão, recalcamento, considerando essa última como um dos pilares da Psicanálise.