Por João Jorge Correa
A princípio, na literatura, entende-se o sintoma como sendo uma expressão do recalcado e seria, por sua vez, a realização de fantasias constituídas por conteúdos de caráter sexual provenientes das pulsões do sujeito.
É possível afirmar que o sintoma carrega consigo um sentido que é tipicamente inconsciente e que insiste em informar algo para o sujeito que na maioria das vezes sequer tem conhecimento do conteúdo dessa informação, todavia “sofre” os seus efeitos.
Assim, se no sintoma está parte da realização sexual do sujeito por intermédio das suas fantasias oriundas das pulsões, e que informa algo, podemos indicar como sendo, o sintoma, um espaço onde está compartilhado o sofrimento. Entretanto, o sujeito não consegue discernir a compreensão desse processo. O sonho, por sua vez, seria uma forma de caminho ao inconsciente. De caminho em direção aos desejos inconscientes e que ao fazer esse movimento busca promover certa descarga, que é sempre parcial. Freud em seus escritos arrisca dizer que os sonhos são uma espécie de alucinação. Em relação aos sonhos, em diferenciação no que tange os sintomas, aqueles são linguagens que se constroem a partir de imagens e aí estaria o princípio, ou um dos princípios, que marcam algumas dificuldades para sua compreensão: como imagens são diferentes de palavras e apresentam maior ambiguidade e afloram contradições torna-se muito complexa a tarefa do analista promover a interpretação dos sonhos.
Esta dificuldade ampara-se nas próprias distorções produzidas no sonho o que afeta sobremaneira os mecanismos e instrumentos de análise e decifração devido à quase irreconhecibilidade dos processos oníricos. Pode-se dizer que o sonho é a realização de um desejo, mas não um desejo qualquer uma vez que estão retidos no inconsciente. Em outras palavras, o sonho é a realização de um desejo que se dá através do inconsciente que tem acesso as estruturas de linguagem através de alucinações, porém sem motilidade. Para se chegar ao sonho existem dois caminhos: um se daria através de deslocamentos e o outro por intermédio de condensação. Estas duas trajetórias possíveis constituem o que se convencionou chamar de processos de elaboração dos sonhos. Esses dois elementos estão relacionados com as estruturas de linguagens onde encontramos os significados e os seus respectivos significantes. Teoricamente, podemos nos deparar com um significante e uma série de significados para si. A interpretação dos sonhos proporcionaria, em síntese, a compreensão destes processos de deslocamento e condensação. De alguma forma pode-se afirmar que o sintoma está envolvido nesse dilema dialógico entre significado, significantes, deslocamentos e condensação. Ele (sintoma) se envolve na medida em que busca expressar algo que o sujeito não diz e que, também, devido ao recalcamento, não dá conta de explicar o que se passa. Assim, o sintoma se “manifesta” no corpo, ou seja, o corpo “fala”, indica, sugere aquilo que o sujeito não consegue verbalizar. Enfim, o sintoma pode ser qualificado como integrante do campo dos pensamentos que deixaram de ter significado até o analista conseguir ouvi-lo e promover seu entendimento. Por fim, cumpre apontar uma ideia relevante apresentada por Freud: os sintomas também podem ser qualificados como instrumentos da realização de desejos e, o que os diferencia dos sonhos nessa ação é que no que tange aos sintomas existe uma espécie de compromisso entre o desejo em si e os elementos censuradores dos processos secundários.
Freud denomina de primários os processos que ocorrem no inconsciente e, opostamente, de secundários aqueles que pertencem ao campo consciente. Trata-se de processos que influenciam a forma como o sujeito lida com a realidade e com as contradições e complexidades dela advindas, bem como almejam a satisfação de impulsos que nesses processos se originam. Em função desse quadro Freud busca a compreensão das inter-relações que ocorrem entre processos primários e secundários e, a partir de seus estudos, aponta (dentre outros elementos) dois mecanismos básicos que atuam na constituição do psiquismo do sujeito: a condensação e o deslocamento. É na obra “Interpretação dos Sonhos” que o autor em questão aborda estes dois conceitos fundamentais. O conceito de deslocamento diz respeito à possibilidade das ideias tomar de empréstimo como recurso da sua manifestação o sentido alheio que pertence à outra ideia. Isto quer dizer que de alguma forma ideias, imagens e/ou fatos de aparente baixa importância para o sujeito adquirem uma significação mais amena, enganando os instrumentos de censura desse sujeito e surgindo no conteúdo dos sonhos.
Da mesma forma ocorre o processo inverso: ideias, imagens e/ou fatos nítidos e significativos no conteúdo do sonho que se elevam a essa condição pela associação com fatos, imagens e/ou ideias importantes e relevantes. O deslocamento constitui-se num mecanismo de substituição, por assim dizer, sobre elementos importantes que sofreram uma resistência. Neste sentido, o conceito de deslocamento está diretamente associado e relacionado aos mecanismos censuradores, sendo eles, por sua vez, que comandam as substituições de ideias que possam constituir-se em conflito. Já o conceito de condensação trata-se de um mecanismo que promove o significado de uma ideia, imagem e/ou fato completos a partir de uma pequena porção que os constitui. A condensação constitui-se com elemento central no trabalho do sonho. Ela seria o elemento diferenciador entre o conteúdo manifesto (carente de conteúdo) e o conteúdo propriamente latente (rico em detalhes e elementos constituintes). É por intermédio da condensação que se dá a aglomeração, isto é, a reunião dos diversos conteúdos que se encontram dispersos.